- 27/09/2018
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- Category: Carreira, Gestão e Negócios

Para Thomas Philbeck, mudanças no mercado de trabalho dependem de coordenação entre indivíduos, empresas e governo
SÃO PAULO – Nos próximos anos, novas tecnologias, como a inteligência artificial e a robótica, destruirão empregos e criarão outros, mas o foco dessa transformação deve ser, necessariamente, pessoas. A tese é de Thomas Philbeck, diretor do Departamento de Ciência e Estudos em Tecnologia do Fórum Econômico Mundial. Ele participou nesta sexta-feira do seminário “Como será o trabalho do futuro à luz das novas tecnologias”, na Fecomercio-SP.
— São as pessoas que são o centro dessa transformação. Se estivermos criando um sistema econômico que abre uma dicotomia do progresso social, não vai dar certo. Se nós tornarmos o humano como meio e não fim dessa revolução teremos um problema sério – diz o professor americano, que dedicou a carreira a pensar os efeitos da tecnologia na vida humana.
A condução adequada desse processo, segundo Philbeck, é resultado da coordenação entre indivíduos, empresas e governo. Os primeiros devem buscar atualizar constantemente suas habilidades, em sintonia com as novas demandas do mercado de trabalho. As empresas, e seus executivos precisam ter visão, treinar e dar espaço a esses novos profissionais. E os governos devem prover recursos para educar e ampliar o debate democrático sobre novas habilidades e profissões.
Sobre o Brasil, Philbeck é otimista. Diz ver um “futuro próspero” ao país, pois é um lugar que incorpora novas tecnologias com rapidez, sobretudo em setores como o agronegócio e eletrônico. Ele reforça que metade da força de trabalho do país é informal, o que lança luz à necessidade de treinar os cidadãos para que tenham habilidades mais tecnológicas, pois trata-se de um tipo de trabalhador mais “adaptável e flexível”. Um dos caminhos, diz ele, é investir na educação primária e secundária.
— Existe uma grande oportunidade no Brasil (…) A pergunta principal é: como fazemos a transição para otimizar o uso de novas tecnologias? Como levamos as pessoas de um emprego para outro, não para maximizar os benefícios de um determinado grupo, mas distribuí-los de forma correta, diminuindo a desigualdade?— questiona.
Antes da fala de Philbeck, o organizador do seminário, o professor José Pastore, chamou a atenção para alguns “efeitos colaterais” da atual revolução tecnológica, como a invasão da privacidade, o aumento da desigualdade e a destruição de empregos. Por isso, defende que as mudanças institucionais devem ser rápidas e bem feitas, pois quando demoram, já não há mais tempo de serem eficazes. Sobre a fala do diretor do Fórum Econômico Mundial, Pastore destacou a revolução cultural proposta pelo professor americano.
— É interessante, como sugere Philbeck, pensar em como traçar políticas, organizar instituições e desenvolver ações para minimizar os efeitos disruptivos e predatórios que muitas vezes ocorre com tecnologias que entram no mercado de trabalho abruptamente.
Um estudo recente da consultoria McKinsey, citado por Pastore, mostra que a automação vai impactar a carreira de 15,7 milhões de brasileiros até 2030. No mundo, a expectativa é de que até 800 milhões de profissionais sejam afetados. O diretor do Fórum Econômico Mundial mostrou um quadro com algumas profissões que devem ser extintas nos próximos anos, como as de caixa de banco, gerente de empréstimos e analistas de crédito. Diz que não será um percurso fácil, e pondera que não é otimista nem pessimista.
— O que importa é a forma como trabalhamos, junto com as tecnologias, para criar e influenciar instituições. As lideranças devem assumir responsabilidades perante o povo que representa (…). Devemos nos concentrar no desenvolvimento de habilidades funcionais que permitam a flexibilidade e a adaptabilidade do trabalhador.
Em linha com a perspectiva de Philbeck, a líder de recursos humanos da IBM Brasil, Christiane Berlinck, disse, no painel seguinte, que mais do que a tecnologia em si o mais importante é o que fazemos e queremos fazer dela.
— As máquinas não vão substituir os homens, mas vai aumentar o potencial humano das pessoas no mercado de trabalho – disse. – Há valores, como a moral, que são essencialmente humanos e isso nunca vai mudar.
Publicado em O Globo por Luís Lima em 27/04/18 às 12h38